Cultura Lean: como o ganho de eficiência pode impactar as seguradoras

Segundo especialista do Lean Institute Brasil, existem cases nos quais o tempo de regulação de sinistro, por exemplo, obteve uma redução de 75% com a adoção da filosofia

Das diversas metodologias existentes e difundidas em empresas de todo o mundo, Lean é uma das mais consolidadas. Desde seu surgimento, na década de 1990, até os dias de hoje, essa filosofia de gestão foi aprimorada conforme as mudanças do mercado e, atualmente, tem aplicação relevante no setor de serviços, incluindo hospitais e instituições financeiras. Mas, assim como qualquer outra metodologia que a organização decida implementar, o engajamento das pessoas é premissa básica para o sucesso dessa estratégia.

A cultura Lean, conforme explica Augusto Fonseca, gerente de projetos do Lean Institute Brasil e consultor contratado da Sistran para assuntos de Lean/Scrum, foca especificamente em duas frentes: entrega de valor para o cliente e eliminação de desperdício. “Um dos principais ganhos é o aumento da eficiência operacional, que promove uma ampliação da entrega da empresa entre 60% e 90%”, afirma o especialista, que conta com 25 anos de experiência em seguradoras como Bradesco, AIG/Unibanco, Liberty Seguros e Zurich.

Embora a adoção da cultura Lean esteja em grau elevado no Brasil, muitas empresas, em diversos segmentos, ainda não têm consciência de que determinados padrões e dinâmicas estabelecidos na organização tendem a emperrar o processo de implementação da metodologia.

“A grande barreira é o mindset das próprias empresas, principalmente o da alta liderança. Esse é um empecilho que o Lean ajuda a transformar”, destaca Fonseca. A metodologia, segundo ele, acaba invertendo a pirâmide de hierarquia da companhia, fazendo com que as áreas operacionais passem a ser suportadas pela cadeia de liderança, eliminando o cenário no qual o “líder aparece isolado, cobrando resultados e apontando culpados”.

Fonseca destaca, inclusive, que bons exemplos do uso da metodologia são criados por profissionais da camada operacional que aplicam o Lean e, como resultado, acabam por transformar a empresa. “Foi o que aconteceu com a própria Toyota, pioneira na filosofia de gestão Lean, quando Taiichi Ohno, responsável pela criação do Sistema Toyota de Produção, ocupava um cargo comum de gerente no setor de usinagem da empresa”, conta o especialista.

A mentalidade enxuta proposta pela cultura Lean permite que a empresa:

• Identifique o valor a ser entregue para o cliente;
• Alinhe, na melhor sequência, as ações que criam valor;
• Realize tais ações sem interrupção, sempre que necessário e de forma cada vez mais eficaz;
• Torne o trabalho mais satisfatório e balanceado;
• E elimine desperdícios, e não empregos, melhorando continuamente.

Aplicação

A metodologia Lean, para ser bem aplicada, deve permear todas as áreas da empresa – de vendas a compras, de finanças a recursos humanos. Segundo o gerente de projetos do Lean Institute Brasil, é importante perceber a diferença entre o que é meramente ferramental e o que é uma transformação de fato. “Trata-se de uma jornada de implementação longa, mas com frutos muito relevantes”, destaca. Ele analisa que, no mercado de seguradoras, ainda existem poucos casos práticos e relevantes de adoção da cultura Lean. O case mais consolidado é, na visão do especialista, o da Liberty Seguros, que utiliza a metodologia há 10 anos. Mas existem outros projetos em andamento que buscam expandir o número de cases dentro desse mercado.

No caso das seguradoras, Fonseca destaca que o Lean pode atuar de forma eficiente, por exemplo, no tempo de regulação de sinistro – há casos em que houve redução de até 75% nesse intervalo. “Em regulações como a de seguros de vida feitas acima do prazo regulatório de 30 dias úteis, temos cases que alcançaram uma média de até 90% de redução com a filosofia Lean”, explica.

Outros benefícios também podem ser obtidos na implantação de apólices, no pagamento de comissões e no atendimento via call center. Ao priorizar os setores nos quais existe maior índice de desperdício, é possível oferecer mais oportunidades de melhorias para essas áreas – o que, consequentemente, gera impacto no negócio como um todo.

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24 de maio de 2018 | Atualizado dia 24 de maio de 2018